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O Reino de Deus não é para quem passa correndo. É para quem se assenta à mesa e se deleita no banquete da graça.

Atualizado: 6 de fev.


Um texto de: Wagner Cidral
Um texto de: Wagner Cidral

As portas de um grande restaurante abriram-se com a solenidade de um templo, revelando um salão banhado em luz dourada e aromas que evocavam o Éden. Mármore italiano, cristais tchecos, talheres de prata - a opulência do restaurante de cinco estrelas era um convite à indulgência dos sentidos.


Elias, um jovem de olhar sincero e vestimentas simples, adentrou hesitante, guiado pelo maître em direção à mesa onde o aguardava Samuel, seu amigo de infância e agora, dono daquele império gastronômico.


"Elias, meu velho!" Samuel exclamou, erguendo-se num abraço caloroso.


"Que bom te ver! Preparei um banquete digno dos reis. Vieiras gratinadas com aspargos, cordeiro assado com purê de trufas negras..."


Os olhos de Elias brilhavam. Há quanto tempo não experimentava algo além da daquilo que lhe era cotidiano? Ele se animou. Criou grandes expectativas. O aroma da comida era uma sinfonia, uma promessa de deleite para seu paladar adormecido. Além disso, pegou ali outros cardápios, que não era o principal, e se ocupou um pouco mais de tempo lendo-os e procurando saber o que poderia comer naquela noite. Ele dizia: Samuel, quantas coisas boas você tem aqui.


Estou muito animado. E Samuel insistia para que provasse dos alimentos que estavam diante dele.


Mas, antes que pudesse se acomodar, o celular vibrou em seu bolso, insistente. No visor, o nome do chefe cintilava como brasa, prenunciando a fúria do inferno. "Com licença, Samuel," Elias disse, a voz embargada, o coração já tomado pela ansiedade. "Preciso atender." Do outro lado da linha, a voz áspera do chefe esbravejava sobre prazos, clientes insatisfeitos e a necessidade urgente de sua presença na empresa. O paraíso gustativo à sua frente esvaiu-se como miragem no deserto. Elias, cabisbaixo, despediu-se do amigo e correu para o trabalho, o estômago vazio e o coração pesado.


A cena no restaurante, tão trivial em sua essência, ecoa a tragédia da alma humana em sua relação com Deus, sua palavra e culto a Ele.


O que aconteceu com Elias acontece conosco diariamente. Deus nos chama para nos sentarmos à Sua mesa, mas nos levantamos depressa, inquietos, apressados, como Marta que se ocupava de muitas coisas e esquecia da única necessária (Lucas 10:41-42). O culto, a pregação, a Palavra lida são pratos celestiais postos diante de nós, mas nossa alma mal toca a comida antes de correr para a "urgência" do mundo.


1. A Ilusão do Necessário


O chefe de Elias gritou e exigiu sua presença. Ele cedeu. Quantas vezes os senhores deste século gritam em nossa consciência, e nós obedecemos sem questionar? O trabalho, os compromissos, os prazos, as notificações incessantes, as preocupações financeiras—tudo nos diz: "Se você não vier agora, perderá tudo!"

Mas o que é realmente necessário? Cristo nos ensinou que "uma só coisa é necessária" (Lucas 10:42). Se não nos alimentarmos espiritualmente, toda nossa corrida será vã. O que adianta ganhar o mundo e perder a alma? (Marcos 8:36).


2. O Perigo da Distração


Quando Elias pegou os cardápios, desviou-se momentaneamente do convite principal. Assim também fazemos quando, ao invés de nos aprofundarmos na Palavra, nos contentamos com leituras superficiais, devocionais rasos, sermões que entram por um ouvido e saem pelo outro.


Richard Baxter advertia:


"A alma não pode estar saudável sem meditação frequente na Palavra. Muitos leem as Escrituras apressadamente, sem reflexão, e perdem seu valor. Como um homem que come sem mastigar, assim é aquele que lê sem meditar."


Meditar na Palavra é mastigá-la, saboreá-la, deixá-la nutrir e transformar nosso interior. Não basta ouvir o sermão no domingo; devemos ruminá-lo, aplicá-lo, trazer à memória suas verdades no meio da semana.


3. O Chamado da Eternidade


Elias saiu correndo para atender seu chefe, mas não percebeu que ignorou um chamado muito maior. Ele trocou um banquete por um chicote. Não é isso que o pecado faz? Ele promete liberdade, mas entrega escravidão.


Quantas vezes nos levantamos da mesa do Senhor para nos curvar diante dos ídolos deste mundo?


Deus nos chama a um banquete eterno:


"Eis que preparo para vós um Reino, como meu Pai o preparou para mim, para que comais e bebais à minha mesa no meu Reino" (Lucas 22:29-30).


Mas quantos rejeitam esse convite? Como os convidados da parábola, que preferiram seus negócios e lavouras ao grande banquete do Rei (Lucas 14:16-24).


Puritanos como Thomas Watson entendiam bem esse perigo:

"O diabo se contenta em nos dar o mundo inteiro, desde que possua nossa alma."

Elias saiu do restaurante com fome. Muitos saem do culto do mesmo jeito. Sem experimentar. Sem meditar na doutrina aprendida quando a segunda feira chega.

O presente século nos apressa e você pouco para lembrar daquilo que esteve diante de seu coração. Talvez espera pelo próximo convite, mas a segunda lhe avisa que só será uma breve visita.


Não apenas desfrute do cheiro e dos belos pratos do cardápio, medite de dia e noite no prato oferecido pelo Senhor.

Pare. Sente-se. Coma. Desfrute. O Reino de Deus não é para quem passa correndo. É para quem se assenta à mesa e se deleita no banquete da graça.

 
 
 

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© 2025 CRIADO POR WAGNER CIDRAL E ALEX EDUARDO DE BASTIANI 

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